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RESUMO HISTÓRICO DA CAPOEIRA

As origens da Capoeira são obscuras. Durante o governo do presidente Deodoro da Fonseca, o então ministro da fazenda, Rui Barbosa, determinou que se queimasse toda documentação referente à escravidão no Brasil; como a capoeira, em suas raízes, foi estreitamente ligada à escravidão, o concernente ao seu histórico é baseado em tradições orais, e poucos documentos que escaparam à incineração de 1890. Partindo-se desses escassos documentos, sabe-se que por volta de 1538 foram trazidos para a Bahia os primeiros escravos africanos, a maior parte vinda de Angola, Benguela e Luanda, sendo que o mais antigo documento a respeito, que se tem notícia, é a carta de Duarte Coelho a Dom João III, de 1542, na qual aquele solicitava o envio de mais escravos.

Entre as várias correntes de opinião envolvendo as origens da capoeira, destaca-se a que argumenta ter sido ela criada e desenvolvida aqui no Brasil, talvez logo após as primeiras fugas dos engenhos. Nesse caso, cita-se como argumento a inexistência da capoeira na África, até pouco tempo.
A capoeira teria surgido de danças africanas, acrescentado a elas um caráter marcial (de ataque e defesa). Isso era necessário para que os escravos fugitivos nos quilombos, pudessem se defender e/ou atacar os "capitães-de-mato".

Com relação ao nome do jogo, tem-se conhecimento que escravos oriundos de quilombos (geralmente situados em florestas), preferiam lutar, quando necessário, em local onde condições ambientais pudessem lhes ser favoráveis; essa região escolhida costumava ser a "capoeira", denominação dada à terra recentemente queimada, quando começam a brotar as primeiras Poaceae (atual denominação das gramíneas), não havendo ainda arbustos ou árvores de grande porte. Nesses locais, os escravos se sentiam aptos para enfrentar seus perseguidores, que os achando agachados na relva precisavam se cuidar dos açoites e chibatadas dos então chamados "Lutadores de Capoeira", "Lutadores da Capoeira", ou simplesmente "Capoeiras", que passou a ser também o nome do jogo.

A história demonstra ter a capoeira sido usada como defesa à opressão social em diversas regiões do Brasil, principalmente no estados da Bahia e Rio de Janeiro, de onde nos chegam lendas de capoeiras famosos. Ajudou a vencer batalhas, com golpes como rasteira, pontapé, joelhada, rabo de arraia, cabeçada, aú, balão, boca de calça e meia lua. "A arma de mais valor para o capoeira é um nalfe", espécie de navalha (Coutinho, 28). "O berimbau é uma arma": a verga é um cassete, e a baqueta usada para furar (Coutinho, 29); poderia ser usado para sinalizar a presença de cavaleiros, ou mesmo para derrubá-los de suas montarias, muitas vezes tendo faca ou navalha em sua extremidade.
Em maio de 1809 era criada a Guarda Real de Polícia, dirigida pelo Major Miguel Nunes Vidigal, temido e implacável na perseguição aos capoeiras, que desta data em diante não teriam mais sossego.

A capoeira exerceu influência nos acontecimentos socioculturais e políticos do Brasil, a tal ponto que o Código Penal de 1890 deu um tratamento especial ao caso, prevendo prisão, trabalhos forçados, e até deportação para os seus praticantes.

Naquela época, não existindo organização didática mais concreta, os ensinamentos eram propalados de maneira bastante intuitiva e os segredos bem mantidos, respeitando-se o caráter profundamente tradicionalista dos velhos mestres, como os da Ladeira de Pedra do bairro da Liberdade, onde surgiria o primeiro centro de capoeira angola do estado da Bahia (O conjunto de capoeira de angola Conceição da Praia foi o embrião do Centro Nacional de Capoeira de Origem Angola, localizado na Ladeira de Pedra, onde ficava a famosa Gengibirra; mais tarde Centro Esportivo de Capoeira Angola, transferido para o "Pelourinho 19", e também conhecido como Academia do Pastinha, relacionado entre os desordeiros da Sé, segundo Coutinho, p. 123). Alguns capoeiras famosos da época são citados no apêndice 1, ao final deste capítulo. Os locais da Bahia onde a capoeira Angola teria sido praticada no início do século, seguem no apêndice 2.
Há muito se ouve sobre capoeiristas que não dispensavam seus chapéus de palha, lenço no pescoço ("O capoeirista nunca desprezou o seu cachecol de seda ao pescoço para sua defesa contra essa arma traiçoeira que se chama navalha..." Coutinho, 60), tamanco arrastando e brinco de argola na orelha. Via de regra, pessoas idôneas, embora mandingueiras. Mesmo diante dos maiores desafios, se mantinham em impecável atitude ética, o que lhes valia convites para serem guarda-costas de políticos famosos ("...Dr. Álvaro Costa - Apêndice 3 - protegia Escavino e Ducinha. Os dois irmãos tinham confiança nele..." Coutinho, 61) ou abre-alas de escolas de samba.
Posteriormente surgiriam angoleiros de grande expressão, como os Mestres Bola Sete, Caiçara, Canjiquinha, Cobrinha Verde, Curió, João Grande e João Pequeno (pró-mestres de Pastinha), Mário Bom Cabrito, Nô, Papo Amarelo, Paulo dos Anjos, Waldemar e os do Grupo Angola Pelourinho.

MESTRE BIMBA

Assim era até que em 1900 nascia Manoel Joaquim dos Reis Machado, apelidado Bimba (discípulo do africano Bentinho, e depois de Paquete), que aprendeu e ensinou a capoeira Angola durante quatorze anos. Depois de muitos estudos, certificando-se da existência de pontos falhos naquela modalidade, desenvolveu outra, a qual chamamos capoeira Regional, via de regra, mais objetiva e letal.
Mestre Bimba abriu, em 1932, a primeira academia de capoeira organizada, com alunos de grande projeção social e até autoridades do governo, contribuindo assim para a ascensão sociocultural do esporte.
A capoeira viria a ser sistematizada como forma de luta e instituída como desporto em 1973.
Em 1974, em Goiânia (GO), faleceu Manoel dos Reis Machado (Bimba). Em 1981 a nobre arte perderia Vicente Ferreira Pastinha, e em 2002, José Gabriel Goes, mestre Gato Preto e Dourado, de Santo Amaro da Purificação (BA).
A capoeira tem quinhentos anos, simboliza a liberdade e representa um folclore que se espalha pelo mundo. Começou como Angola, depois surgiu a Regional. Alguns praticantes estão citados no apêndice 4.

APÊNDICES


Apêndice 1: Capoeiras famosos do início do século: Age Pintor (Pau da Bandeira - Rua do Chile), Agostinho Ponta, Alfredo, Algemiro Grande Olho de Pombo (estivador na zona marítima, temido por muitos), Amaralina, Amorzinho Guarda, Antoninho da Barra (Açougueiro), Antônio Boca de Porco (estivador Julião), Antônio Coró (Carroceiro - Cais Dourado), Antônio Galindeu (mestre de lancha de Cachoeira de Paraguaçu), Augustinho Pantalona (mestre de C.A. Avarengueiro), Avarengueiro, Balbino Carroceiro (Cais Dourado), Barbosa (carregador de canto - largo Dois de Julho), Bardelha, Basílio (carregador da rampa do Modelo), Bedaço, Bemor do Correio Federal (marinheiro do Ministério da Guerra), Benedito Cão (Engenho Velho de Brotas), Bento Grande de Brotas (usava moletas como disfarce), Bilusca Pescador de Barra Fora (Preguiça), Boca do Rio, Bonome, Caboquinho Estivador (cais do Porto Julião), Cândido da Costa (Cândido Pequeno: argolinha de ouro - campeão baiano, e mestre de Noronha), Cara Queimada, Chico Me Dá Me Dá, Chico Três pedaços (vendedor de peixe, mercado Santa Bárbara, Baixa do Sapateiro), Cimento de Itapoã (pescador de Barra Fora - Itapoã), Daniel Coutinho Noronha (Noronha), Ducinha, Ecavino, Edigar Carrocinha (sapateiro - Maciel de Baixo), Espírito de Porco, Estevinho Pequeno, Estivador, Fausto Grande, Feliciano Bigode de Seda (carregador - Pilar), Galo do Bozó, Gasolina Pescador, Geraldo Chapeleiro (ladeira do Tabohã), Geraldo Pé de Abelha (engraxate - mercado Modelo), Governador (carregador do Cais), Henrique, Hilário Chapeleiro (pai de santo - Itapoã), Inocêncio Duas Mortes (cabo eleitoral - Boa Viagem), Júlio Cabeça de Leitoa, Juvenal Engraxate (mercado Modelo), Lamite Carregador (o grande Lamite, corruptela de Dinamite, respeitado até pela polícia - encabeçava uma das festas da escadaria do Cais do Ouro - Pilar - segundo Antônio Viana, cronista baiano dos usos e costumes, no início do século citado por Coutinho, p. 116), Livino Boca da Barra (Malvadeza), Lona Grande, Lúcio Pequeno (Trapicheiro - praia da Preguiça), Macaco, Marco Pequeno, Maré, Nouzinho da Caroagem, Onça Preta, Paquete do Cabula (mestre de Bimba, citado por Coutinho, p. 116), Pedro Mineiro (carregador - Praça da Sé), Pedro Porrêta (vendedor de peixe - mercado Santa Bárbara e Trapicheiro - Pilar), Pedro Trinta e um (carregador - Maciel de Baixo), Percílio (engraxate - mercado Modelo), Pesado, Piedade (carregador - Praça da Sé), Piroça (vendedor de peixe - mercado Santa Bárbara, Baixa do Sapateiro), Primo Estivador, Raimundo ABR. (pedreiro - Santa Casa de Misericórdia), Ranzino, Ricardo do Cais do Porto (Doca da Bahia), Samoel Grande da Calçada (carpinteiro), Samuel Pescador de Barra Fora (rampa do Modelo), Sargento do Izeito Odean, Sete Mortes, Simão Diabo, Suriano, Taviano (carregador do Cais), Tibirí Focinho de Porco (condutor de bonde de burro - Correio Nacional), Tibujú Boca de Arraia, Totonho de Maré (estivador - Cais do Porto), Vermelho, Verpó (estivador - cais do Porto Julião), Viarço Pequeno (Carvão de Pedra, Areia do Sete), Vicente Ferreira Pastinha (discípulo de Benedito, africano de Angola), Victor H.U. da Curva Grande (pescador de Barra Fora - Rio Vermelho), Ximba Cabo da Escradão e Zehi.

Apêndice 2 - Locais da Bahia de prática de Capoeira Angola: Ácido da Torre, Alagoínha, Bananeiras de São Félix do Paraguaçu, Barra do J. (Conceição Grande), Barra Paraguaçu, Belém de Cachoeira, Bom Despacho (Mar Grande), Cabrito da Cabeceira da Ponte de São João, Caju (zona do petróleo), Candeias, Caperuçú de Cachoeira, Cova de Defunto (Candeias), Cruz das Almas, Feira de Santana, Feira de Conceição, Gamboa do Morro, Gameleira (Mar Grande), Ilha de Itaparica, Ilha de Maré, Ilha de Passé, Itapoã, Jaburu (Mar Grande), Juazeiro, Lobato da Cabeceira da Ponte de São João, Manguinho Mar Grande, Maragogipe de Paraguassú, Mata de São João, Morro de São Paulo, Muritiba, Nazareth das Farinhas, Passagem Teixeira Candeias, Pijuça, Plataforma do Lobato, Porto Seguro, Salina da Margarida, Santo Amaro de Pitanga, Santo Amaro da Purificação, São Felipe, São Félix, São Roque do Paraguaçu, São Sebastião do Passé, Serrinha, Tanquinho de Feira, Trapiche de Baixo, Santo Amaro, Usina de açúcar Maracangalha e Valência.

Apêndice 3: Dr. José Álvaro Cova, natural da Cidade do Salvador (BA), bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia. Conselheiro Municipal em 1896, Deputado Estadual e Federal. Em 1908 seguiu para o sul do Estado, como Delegado Regional, em uma época em que o horror dominava a zona do cacau, e, "com a sua ação enérgica e decisiva, restabeleceu a ordem nas comarcas que policiou". Durante a sua gestão na chefatura de polícia, foi criada a Guarda Civil, ampliado o Gabinete de Identificação, reorganizada a administração da Penitenciária, foram reformados os postos policiais e proposta a criação do Corpo de Agentes da Segurança Pública. Empossado a 29/03/1912 (informações obtidas no livro História da Polícia Civil da Bahia, publicação do Governo do Estado, Empresa Gráfica da Bahia, 1979 - citado por Coutinho, 61 e 79: Foi um dos maiores delegados de polícia da Bahia", no Terreiro de Jesus).

Apêndice 4: Acordeon, Adelmo Pereira Lima, Adilson, Albino, Alex, Alexandre José Ribeiro de Amorim, Alfinete, Amendoim, Angola, Angoleiro, Artur Emídio, Bailarino, Bartolomeu Vieira das Chagas (Barto), Bené, Bimba (*), Boca, Boneco, Brasília, Burguês, Camisa, Camisa Rocha, Carlos, Cesinha (*), Cláudio, Cléber, Daniel, Dentinho, Djalma Bandeira (*), Don Ivan, Eudes, Fábio Rudge Maia, Falcão, Farol, Federa, Fernandão, Gato, Gavião, George Washington Rocha Barreto (*), Gladson, Hélio, Índio, Jorge Miguel do Bomfim (My Friend), José Grande, José Moraes, José Pasquine, José Paulo dos Santos (Paulão), José Pedro, Kan Kan, Kaveirinha, Louro, Luiz Antônio Letayf, Macumba, Mão Branca, Maranhão (*), Marco Aurélio, Marião, Martinho, Milton Freire de Carvalho (Onça Tigre), Mintirinha, Nakre Garios, Nego Bento, Neguinho, Nestor, Onça Negra, Ormindo, Papagaio, Paulo Gomes (*), Paulo Sérgio, Peçonha, Pedro Kopchitz, Pedro Paulo Curi, Pesado, Pesão, Pinheiro, Pombo de Ouro, Raimundo César Alves de Almeida (Itapoan), Raliu, Reginaldo da Silveira Costa (Squisito), Reinaldo, Ricardo, Roberto (Barba), Sérgio, Sossêgo, Suassuna, Suíno, Tabosa, Teixeira, Tiaozinho, Tranco, Tranqueira (*), Travassos (*), Trinta e Dois (*), Trovão, Ventania, Vermelho (*), Vivaldo da Conceição (Boa Gente).
(*) Falecidos.

Bibliografia

Monografia desenvolvida por João Couto Teixeira no Curso de Especialização no Ensino da Capoeira na Escola, Universidade de Brasília, 1998.



Núcleo de Teatro Experimental do Negro
SP/SP - 1951 Diretor Solano Trindade
Retrato: J. Bamberg

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